Projeto de redação de professor de SP é selecionado por plataforma de educação da Finlândia

Projeto de redação de professor de SP é selecionado por plataforma de educação da Finlândia

Projeto de redação de professor de SP é selecionado por plataforma de educação da Finlândia

Wagner Siqueira é morador de Itaquera, na zona leste da capital, e professor da rede estadual de ensino há 31 anos. Em 2025, como professor das disciplinas de língua portuguesa e redação e leitura, seu principal projeto “Penso, Logo Escrevo” completa 21 anos e alcança status mundial. Isso porque a ação desenvolvida atualmente na Escola Estadual Fadlo Haidar, na mesma região da capital paulista, foi selecionada pelo portal HundrED, uma organização global com missão e sede na Finlândia, país reconhecido por sua excelência educacional, e agora compete para estar entre as 100 inovações mais impactantes e escaláveis para a edição de 2026 do catálogo da organização.

O fato de seu projeto estar no site da HundrED é considerado, pelo professor, como uma premiação, o reconhecimento do seu trabalho. “Nosso projeto é fincado na realidade brasileira, na realidade da zona leste de São Paulo. Agora, escolas de todo o mundo podem se inspirar no ‘Penso, Logo Escrevo’, replicar ou transformar essa ideia para suas realidades com o mesmo objetivo: que seus alunos escrevam mais e melhor. Se estivermos entre os 100 melhores projetos para o catálogo de 2026, será uma outra marca a se comemorar”, avisa o professor.

A ideia do projeto “Penso, Logo Escrevo” surgiu há 21 anos quando, diante de uma prova que pedia uma construção textual, estudantes escreveram: “não sei fazer uma redação”. “Foi aí que eu disse à diretora da minha escola na época que, nos anos seguintes, antes de qualquer prova externa, meus alunos pensariam ‘eu sei fazer uma redação’ diante de um desafio como este. Acho que estou conseguindo”, diz o professor.

Sarah Abreu, de 17 anos de idade, e aluna da 3ª série do Ensino Médio. Foto: Governo de SP

O passo a passo para a implementação do projeto “Penso, Logo Escrevo” do professor Wagner pode ser acessado por escolas de todo o mundo no site da HundrED, na página do projeto. O professor explica que sua iniciativa consiste em envolver os estudantes nas decisões e também nas correções dos textos produzidos e tem cinco principais etapas. “Primeiro, os estudantes se reúnem em grupos para definirem temas para as redações, depois, coloco as principais escolhas na lousa para uma votação geral. Com a entrega dos textos, faço a correção com cada estudante. Em uma próxima etapa, os estudantes fazem a leitura em frente à sala. Na quinta e última etapa, organizamos leituras públicas anualmente para que eles leiam a redação para toda a escola”.

“O diferencial do ‘Penso, Logo Escrevo’ é a participação efetiva dos alunos desde o início da ação, porque não sou eu que determino o tema da redação, são os alunos que propõem os temas que eles desejam discutir. Isso é, de fato, uma escuta efetiva, porque se o aluno traz, por exemplo, a questão da sexualidade, a questão do desemprego, isso tem que ser discutido em sala de aula. A escola não pode se afugentar daquilo que perturba os nossos estudantes”, continua o professor Wagner. 

Sarah Abreu, de 17 anos de idade, e aluna da 3ª série do Ensino Médio, afirma que, entre todas as etapas do projeto, a mais interessante é a correção feita pelo professor enquanto ele está ao lado de seus alunos. “Isso me ajudou em várias coisas, aumentou meu repertório, minha autonomia e a minha segurança na hora de escrever. O projeto ‘Penso, Logo Escrevo’ abre portas e caminhos, porque eu acredito que, com a escrita, muitas coisas podem ser transformadas. A escrita ajuda a gente a transformar a sociedade e também podemos vencer na vida através da escrita”, diz a aluna.

O professor complementa: “Aqui, nós trabalhamos redações para o Provão Paulista, Enem e outros vestibulares, mas vamos além, porque a escrita também é a nossa voz no mundo. A escrita também é importante para quem busca uma posição no mercado de trabalho e para que esses alunos possam se comunicar com pessoas do nosso país e também de outros países.”

Reconhecimento além da escola

Wagner diz que muitos alunos continuam a se lembrar do projeto mesmo após a conclusão do Ensino Médio. “Eu costumo receber mensagens de ex-alunos que estão na fase adulta e voltam para me agradecer”, destaca.

Ex-alunas do professor Wagner que passaram pelo projeto confirmam a retomada do contato para demonstrar gratidão pelo projeto. Caroline Espinoza Rodrigues concluiu o Ensino Médio em 2009 na Escola Estadual Professora Ruth Cabral Troncarelli, tem 33 anos, é advogada, e assume que não era a melhor aluna da disciplina.  “Antes do projeto, nunca gostei de língua portuguesa e muito menos de ler com frequência e, com ele, me apaixonei pela leitura e escrita. Hoje, aplico todos os dias o que aprendi com o professor Wagner. Na advocacia, a escrita e leitura são fundamentais, seja em um processo ou em uma sustentação oral. Todos os alunos do Wagner são privilegiados, porque têm um professor com dedicação e amor pelo que faz, que ensina com maestria e os incentiva a serem muito mais do que pensam ser capazes”, afirma.

Rayanne Bastos da Silva, de 18 anos de idade, concluiu o Ensino Médio em 2024 na Escola Estadual Fadlo Haidar e, em 2025, foi aprovada no curso de biotecnologia da USP (Universidade de São Paulo) pela Fuvest. “O projeto ‘Penso, Logo Escrevo’ me ajudou a passar no vestibular porque me ensinou a conversar com o tema proposto na redação de forma mais plural e fluida. O professor Wagner trouxe mudanças para a minha vida porque sempre me achei pouco criativa e o projeto me ajudou a desenvolver essa criatividade para a escrita”, lembra Rayanne. 

A ex-aluna da EE Fadlo Haidar pondera sobre o novo alcance do projeto: “Quando a gente analisa o histórico desse projeto, é inevitável não sentir vontade de participar. Todo e qualquer aluno que conhecer isso vai se sentir privilegiado de fazer parte.”

Nestes 21 anos de projeto, o projeto foi desenvolvido pelo professor em três unidades de ensino, na EE Professora Ruth Cabral Troncarelli, na Escola Estadual Jardim Iguatemi e, agora, na EE Fadlo Haidar. O professor Wagner já havia ultrapassado anteriormente os muros da escola. Neste período, ele:

  • Foi premiado com o Professores do Brasil, entregue pelo Ministério da Educação em 2009;
  • Conquistou o quarto lugar na V Mostra de Inovações Pedagógicas em Língua Portuguesa pelo Sesc de Belo Horizonte – Minas Gerais, em 2005;
  • Concluiu o mestrado em 2009 com a mesma temática do projeto “Penso, Logo Escrevo” em sua pesquisa científica;
  • Foi convidado a visitar a Escola Estadual Professor Bicalho e a rede de ensino na cidade de Grão Mogol, em Minas Gerais, onde a professora Geane Kênia aplica sua metodologia, em 2019;
  • Assistiu a professora Ingrid Soma, da Escola Estadual Sumie Iwata, ser premiada pela adaptação do “Penso, Logo Escrevo” para crianças dos anos iniciais do Ensino Fundamental, em 2024; e 
  • Em 2025, tem seu projeto com destaque internacional pré-selecionado na HundrED. Agora, passa a competir para estar na Coleção Global 2026 com as 100 inovações educacionais mais impactantes e escaláveis. O catálogo de 2025 já está disponível no mesmo portal com boas práticas de todo o mundo.

“Em agosto, ocorrerá a seleção final dos projetos que integrarão a Coleção Global 2026 de iniciativas inovadoras e escaláveis. Nós, da Escola Fadlo Haidar, estamos torcendo para que o projeto ‘Penso, Logo Escrevo’ esteja entre os 100 escolhidos pela HundrED”, espera o professor.

Redação e leitura

A disciplina de redação e leitura foi implantada pela Secretaria da Educação do Estado de São Paulo (Seduc-SP) em 2024 e integra as ações da pasta para ampliar o número de aulas destinadas ao aprendizado de língua portuguesa. O professor Wagner destaca a iniciativa da pasta: “A grande vantagem é que essa disciplina foca e centraliza em tarefas essenciais que são a redação e leitura, que são parte integrante do ‘Penso, Logo Escrevo’”. Foi nesta gestão que o professor também ganhou outra aliada, a plataforma Redação Paulista, mais uma ferramenta da Educação de SP de incentivo à produção textual. Apenas em 2024, os 397 estudantes do Ensino Médio da EE Fadlo Haidar produziram 2.168 redações apenas na plataforma, uma média de 5,4 textos por aluno.

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