O mês de outubro mal começou e a Secretaria Municipal de Saúde de Castilho já declarou guerra aberta à doença que mais mata mulheres no Brasil: o câncer. Lançando a campanha Outubro Rosa em Castilho deste ano sob o lema “Sua Vida Vale o Seu Tempo”, a prefeitura implementou uma estratégia logística inédita: todas as Unidades Básicas de Saúde (UBS), da zona urbana à rural, terão seus horários de atendimento estendidos, chegando a operar até as 21 horas em dias específicos, além de garantir o transporte para a zona rural.
Mais do que apenas uma campanha de conscientização, a ação é um plano de combate direto focado principalmente na detecção precoce do câncer de colo de útero através do exame de Papanicolau, além de oferecer a solicitação de Mamografia para mulheres acima de 40 anos e testes rápidos de HIV e Sífilis. O objetivo central, segundo o Secretário de Saúde, Demilson Cordeiro, é claro: garantir que nenhuma mulher deixe de realizar o exame preventivo por falta de tempo ou dificuldade de acesso.
Em entrevista exclusiva ao CastilhoSP.com.br, o Secretário detalhou o esforço da gestão para ir além da rotina, reconhecendo a tripla jornada da mulher castilhense.
Quebrando o Obstáculo da Rotina: A Estratégia dos Horários Estendidos
O release original da Secretaria já apontava a extensão, mas o Secretário Cordeiro contextualiza o esforço como uma continuação e uma intensificação de uma política já existente na rede municipal.
Demilson Cordeiro: “A Secretaria de Saúde já trabalha com orientação do Ministério da Saúde de extensão de horário e de atendimento. Então, todas as nossas unidades de saúde já trabalham na rotina até as 19h. A extensão para um pouco mais desse horário e também fazer o Dia D aos sábados é para possibilitar a captação, o acesso de mulheres que não têm disponibilidade de horário até as 19h, que trabalham fora do município, que têm os afazeres domésticos muitas vezes e que acabam não priorizando essa questão da vinda até a unidade de saúde.”
A ação de estender o horário até as 20h e 21h, especialmente na zona rural, e incluir os “Dias D” em sábados estratégicos, é uma tática para derrubar o principal obstáculo à prevenção: a falta de tempo. É um reconhecimento de que a saúde pública precisa se adaptar à rotina das mulheres, e não o contrário.
O Risco e a Meta: Por que o Foco no Papanicolau
O câncer do colo do útero é o terceiro tipo de câncer mais incidente entre mulheres no Brasil, e a quarta causa de morte por câncer. O INCA estima mais de 17 mil novos casos anualmente no país. O exame de Papanicolau é a ferramenta mais eficaz para reverter essa estatística, pois detecta lesões precursoras que, se tratadas, evitam que a doença se desenvolva.
O município de Castilho, atento à incidência nacional, estabeleceu uma parceria vital que otimiza o diagnóstico e o tratamento.
Demilson Cordeiro: “Hoje, nós temos uma parceria com o Hospital do Câncer de Barretos, que considera os exames na faixa etária prioritária, que é a faixa etária de maior incidência do câncer do colo do útero: todas as mulheres de 25 a 64 anos de idade é o nosso foco de busca. Hoje, Castilho tem uma média de cobertura nessa faixa etária que fica entre 60% e 70% da população-alvo.”
A Luta por 70% de Cobertura
Embora 60% a 70% já seja uma cobertura razoável, a meta de Castilho é alcançar a excelência na prevenção durante o mês de outubro.
Demilson Cordeiro: “No momento, nós estamos aí com quase 50% da meta alcançada [do ciclo anual]. E a gente espera que, no mês de outubro, a gente consiga atingir esses 70%. A parceria com Barretos prevê que, no mínimo, nós tenhamos um alcance de 60% das coletas nessa faixa etária.”
O Secretário fez questão de frisar que a coleta não se limita a essa faixa etária. “Mulheres com menos de 25 anos e com mais de 64 anos a gente colhe o Papanicolau também, apenas eles não estão na faixa etária de maior incidência da doença.”
Microplanejamento da Ação: Agentes em Campo
Para que a logística funcionasse, o planejamento não foi centralizado. Ele partiu da base: as equipes que conhecem o território, especialmente as Agentes Comunitárias de Saúde (ACS).
Reportagem: Qual foi o diagnóstico interno que levou à criação deste cronograma específico? Por exemplo, a UBS Alvorada tem quatro dias estendidos, enquanto Laranjeiras tem apenas dois. Há alguma razão demográfica ou histórico de demanda por trás dessas escolhas?
Demilson Cordeiro: “Sim. Na verdade, a gente faz um trabalho de planejamento de acesso para a população de maneira territorializada. Cada unidade de saúde tem um território, uma área geográfica delimitada, coberta por agentes comunitários de saúde. Então, esses agentes, na verdade, eles trazem as demandas dessa população. Essa variação de dias e horários em cada localidade parte do princípio de análise desses agentes. Eles fazem um mapeamento e identificam quais os melhores dias, horários e quantidade de dias.”
Cordeiro explica que essa análise resultou em mais dias de atendimento em unidades com maior dificuldade de acesso ou menor cobertura, e menos dias onde a dificuldade era menor, garantindo a eficiência do recurso humano.
Investimento Inteligente: Flexibilização e Insumos
Questionado sobre o investimento, o Secretário esclareceu que o foco não está em gastos adicionais, mas na otimização da equipe:
Demilson Cordeiro: “O município hoje, na verdade, a gente trabalha com uma organização em que a gente consegue flexibilizar o horário dos profissionais. Muitas vezes, a gente coloca o profissional para trabalhar um pouco além do horário e depois ele deduz essas horas. A gente acaba não tendo custo adicional nesse sentido.”
Em relação aos insumos, ele garante que não há falta: “São os insumos que a gente usa na rotina. A gente faz a coleta do Papanicolau por meio líquido, então a gente já faz a aquisição de um kit específico. Nós já temos esse material disponível numa quantidade suficiente aí para o ano.” O uso estratégico do recurso municipal evita desperdício e garante a qualidade do exame.
O Desafio da Zona Rural e o Acolhimento Multiprofissional
Levar a campanha de Outubro Rosa em Castilho para a zona rural (UBS Jupiá e UBS São Luiz) é um desafio logístico superado com o uso de veículos municipais para buscar as moradoras.
Reportagem: A UBS do Jupiá e a UBS São Luiz são da zona rural. Como o transporte e o acesso das moradoras dessas áreas foram garantidos, especialmente no Dia D?
Demilson Cordeiro: “A Secretaria de Saúde, para essas ações pontuais, principalmente aos sábados, a gente consegue organizar com veículos aqui da secretaria mesmo, vans, o transporte dessas mulheres. Cada equipe dessas unidades dispõe de um motorista que, com a equipe, já se organizou para entender qual a demanda, a necessidade, as rotas às quais ele precisa percorrer para buscar essas mulheres.”
O Cuidado que Vai Além do Exame
Outro ponto de destaque é o acolhimento oferecido pelas equipes. As unidades não oferecem apenas o exame, mas um suporte integral.
Demilson Cordeiro: “Nós temos na nossa rede hoje equipes multiprofissionais, que contam com psicólogo, dentista, nutricionista. Em todas as unidades, a gente organiza essa equipe para que ela complemente o trabalho da equipe de estratégia da família. Essa equipe já vem fazendo um trabalho de acompanhamento dessa mesma população. O psicólogo já está integrado às equipes fazendo um trabalho de acompanhamento, e na verdade, é só mais uma ação.”
A Parceria com Barretos: O Fluxo de Salvação
A entrevista revelou o aspecto mais crucial da campanha de Castilho: a garantia do acesso rápido ao tratamento em caso de alteração no diagnóstico. A parceria com o Hospital do Câncer de Barretos (agora Hospital de Amor) é a porta aberta para a oncologia.
Reportagem: O que acontece com os resultados alterados? Qual é o fluxo de acompanhamento e tratamento para as mulheres que apresentam alguma lesão ou alteração nos exames? Qual é o tempo de espera?
Demilson Cordeiro: “Essa parceria com Barretos nos possibilita uma porta aberta de inserção dessas mulheres numa linha de cuidado. Todo exame que dê alguma alteração, na análise primária, essa mulher já é convocada para ir para Barretos para fazer exames complementares, como uma colposcopia ou uma biópsia, que vai evidenciar se ela tem uma neoplasia ou não.”
O Secretário detalha que o processo é ágil, sobretudo para os casos que inspiram maior cuidado:
Demilson Cordeiro: “Hoje, os nossos resultados, sendo eles normais, têm mais ou menos um prazo de 60 dias para ser emitidos. Mas a triagem é feita por meio eletrônico. Identificando que tem alguma alteração, essa mulher já é convocada de imediato.”
Uma vez diagnosticada, a paciente já passa por uma avaliação com o oncologista que define o tratamento, que pode variar de um simples acompanhamento a um procedimento cirúrgico mais invasivo, como uma histerectomia. “O fato de a gente manter essa parceria com Barretos, garante essa porta de entrada para o serviço de oncologia, e isso acho que é o mais importante do programa”, conclui Cordeiro.
O Futuro da Saúde Preventiva em Castilho
O Outubro Rosa em Castilho é um marco, mas a saúde preventiva, como ressaltou o secretário, é uma prática diária. A campanha visa ser um catalisador para a mudança de comportamento.
Reportagem: Qual que é a sua mensagem final para as mulheres de Castilho, sobre a importância de aproveitar esta oportunidade e priorizar a sua saúde, e o que essa campanha representa para o futuro da saúde preventiva no município?
Demilson Cordeiro: “É importante destacar que nós tratamos com a questão de prevenção, principalmente voltada ao diagnóstico precoce. A evolução de doenças e de outras tantas condições vai depender justamente do tempo que você faz o diagnóstico. É importante que todas as mulheres e todas as famílias entendam isso. O Dia da Mulher é todo dia e é importante destacar que, embora estejamos fazendo uma campanha no mês de outubro, essas ações são desenvolvidas na rotina, então de janeiro a dezembro a gente tem essas ações na unidade.”
O Secretário finaliza com um apelo emocional e de conscientização familiar:
Demilson Cordeiro: “É importante que todas as mulheres tenham consciência desse cuidado, do autocuidado. As mulheres são indivíduos mais conscientes disso. Mas é importante pensar que as mulheres são cuidadoras. Então, de repente, que elas tragam isso para suas famílias, de trazer o marido, trazer os filhos, enfim, as pessoas da família para participar do cuidado aqui na unidade de saúde. Quanto antes nós diagnosticarmos uma doença, um problema, mais fácil o tratamento e melhora a sua evolução.”
A campanha de Outubro Rosa em Castilho é, em essência, uma prova de que a gestão municipal está investindo na saúde a longo prazo, trocando o alto custo do tratamento tardio pela simplicidade e eficácia da prevenção acessível a todos.
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Jornalista Responsável – Registro MTE nº 1134/MS
Editor do portal CastilhoSP.com.br
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