Microclima de áreas ribeirinhas indica avanços na restauração de florestas

Microclima de áreas ribeirinhas indica avanços na restauração de florestas

Pesquisadores da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba, identificaram um novo meio de quantificar o sucesso de projetos de restauração florestal em áreas ribeirinhas. A partir de medições de temperatura e umidade do ar feitas por drones, foi possível estabelecer a relação entre o clima específico da região – o microclima – com os atributos da floresta no local.

O estudo concluiu que nas regiões em que a cobertura vegetal é mais madura, há um aumento na umidade, com redução da demanda hídrica da atmosfera, associado a maior altura das árvores. O método também permitirá o mapeamento de áreas destinadas para restauração com base nas condições microclimáticas. A pesquisa é descrita em artigo publicado na revista científica Science of The Total Environment.

“Os indicadores que medem a restauração de zonas ripárias são associados ao funcionamento do ecossistema”, explica ao Jornal da USP o engenheiro florestal Bruno Moreira Felippe, primeiro autor do artigo. Zona ripária é uma área adjacente ao riacho ou rio e que faz parte da margem, onde os ecossistemas terrestre e aquático se encontram, resultando numa mistura de suas características ambientais.

“Pode-se utilizar indicadores da biodiversidade aquática, por exemplo, macroinvertebrados sensíveis à poluição e mudanças no uso do solo”, acrescenta Felippe. Em relação às florestas, os indicadores estão relacionados à área basal, que é a extensão ocupada pelas árvores em determinado local. “Além disso, é levada em conta a diversidade de espécies vegetais, onde um número maior está associado a um ecossistema mais íntegro, ou seja, que tem um funcionamento mais saudável.”

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Coleta de dados empregou drones com sensores acoplados que medem a temperatura da superfície da floresta, de modo a avaliar sua relação com processos que envolvem a troca de energia entre a vegetação e a atmosfera – Foto: Bruno Moreira Felippe

O objetivo da pesquisa foi identificar como o microclima se modifica com a regeneração de florestas e quais atributos da estrutura florestal estão associados a alterações. “Trata-se do clima de uma área relativamente pequena, cujas condições atmosféricas diferem da região exterior”, explica o engenheiro florestal. “Ele está relacionado aos fenômenos atmosféricos que ocorrem em menores escalas espaço-temporais, podendo variar em minutos, em escala local.”

“Pensamos em utilizar o microclima como um indicador do sucesso da restauração de florestas ripárias, comparando-o com o apresentado por uma cobertura florestal íntegra e saudável. Isso leva em consideração que a regulação climática é um serviço prestado pelas florestas”, destaca Felippe.

“O clima, além de ser a base para o funcionamento adequado de ecossistemas florestais e de processos como transpiração e absorção de carbono, é o fator regulador da vida, possibilitando ou não a colonização de espécies em determinado ambiente, dessa forma incrementando a biodiversidade local” – Bruno Moreira Felippe

Temperatura e umidade

De acordo com o pesquisador, o estudo apurou o microclima por meio do cálculo do déficit de pressão de vapor (DPV), que indica a umidade presente na atmosfera em relação ao que pode registrar quando está saturada. “Ela representa a demanda hídrica atmosférica e pode interferir nos processos ecológicos e hidrológicos que ocorrem no ecossistema”, relata. “Para calcular o DPV, considera-se a temperatura e umidade relativa do ar. Ou seja, quando utilizamos este indicador, levamos em conta duas variáveis atmosféricas.”

A pesquisa avaliou florestas ripárias associadas a pequenos riachos localizados no Vale do Paraíba, interior de São Paulo. “A região está inserida na floresta ombrófila densa da Mata Atlântica, situada em zona de transição, com formações montana e alto-montana”, descreve Felippe. Florestas ombrófilas são caracterizadas pelas altas temperaturas e alto índice de chuvas. A formação montana é a vegetação encontrada acima de 600 metros de altitude e a alto-montana refere-se à cobertura vegetal em locais com altitude acima de mil metros. “Foram avaliadas áreas em estágio inicial e em transição de regeneração média para avançada, além de florestas de referência, situadas no Núcleo Santa Virgínia do Parque Estadual da Serra do Mar, dentro do município de São Luiz do Paraitinga”, diz.

Para realizar a coleta de dados foram usadas aeronaves remotamente pilotadas (drones). “Normalmente é feita a correlação entre o clima em um determinado local com os atributos da floresta, os mais comuns são a altura e cobertura do dossel, que é a parte alta das árvores, índice de área foliar e presença de clareiras”, destaca o engenheiro florestal. “Entretanto, sensores que medem a temperatura da superfície também estão sendo acoplados aos drones para que seja obtida essa variável e relacionada com processos que envolvem a troca de energia entre a vegetação e a atmosfera.”

A pesquisa verificou que houve um aumento na umidade em florestas mais maduras, assim como uma redução no déficit de pressão de vapor. “Identificamos que a altura da floresta está associada à redução do DPV”, salienta Felippe. “Possivelmente ela representa modificações em outros componentes, como maior interceptação de radiação solar pelos estratos superiores do dossel, mudanças no índice de área foliar e alterações fisiológicas de acordo com o incremento na idade do dossel.”

“O estudo identificou um indicador microclimático eficiente e barato que possibilita quantificar o sucesso de projetos de restauração, além de possibilitar o mapeamento de áreas estratégicas para a restauração com base nas condições microclimáticas”, conclui o pesquisador. “Além disso, pode-se elaborar políticas públicas para pagamento por serviços ecossistêmicos (PES), feitos a proprietários de terras e comunidades locais que conservam ou restauram ecossistemas.”

A pesquisa foi realizada por Bruno Moreira Felippe, doutorando, Darigard Ortega Ricardo Rodriguez, pós-doutorando e Sílvio Frosini de Barros Ferraz, professor do Departamento de Ciências Florestais da Esalq. Também participaram do trabalho os professores Ana Claudia dos Santos Luciano e Fábio Ricardo Marin, do Departamento de Engenharia de Biossistemas, e Allisson Queiroz de Oliveira, doutorando do Departamento de Ciências Exatas da Esalq.

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