Maria Aparecida Moreira, a nossa Cida da Cocada


Tilhó o Mascote do Catilho+

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Carlos Alberto dos Santos Dutra

Alguns artistas, especialmente cantores, brilham com facilidade diante dos olhos do povo.

E existe todo um aparato que os promove, sobretudo a partir das instâncias locais de cidades pequenas, como Brasilândia. 

É o caso da maioria dos artistas da urbe que, de quando em vez se apresentam em shows e eventos, promovidos pela municipalidade ou igrejas que se transformam em palco e grandes promotores da cultura e espaço onde desabrocham muitos talentos. 

O caso de Maria Aparecida Moreira, ou simplesmente, Dona Cida, conhecida também como Cida da Cocada, não seria diferente. Porém, em outro patamar de consciência e projeção além-fronteiras. 

Para falar desta pérola negra da poesia e da sonoridade musical é preciso contextualizar como ela adentra este universo da cultura musical de Brasilândia, sendo uma preta, termo agora utilizado para dar visibilidade a uma das etnias que por mais de 500 anos manteve-se em silêncio, amordaçada, subjugada. 

Inicialmente cabe dizer que dona Cida surge não como cantora ou poetisa, como a maioria dos artistas.

Ela surge como uma acampada, mulher negra, sem-terra, viúva de um indígena morto e como militante das causas sociais. Uma guerreira, nascida em Adamantina/SP no dia 12 de janeiro de 1952 e que chegou a Brasilândia ainda menina, estendendo no decorrer dos anos, fortes laços de família e engajamento social e político com a comunidade local. 

Mãe de Solange Aparecida, José Márcio, Marcelo Fabiano, Antônio Marcos, Silvana, Suzana, Maria Célia, Paulo Ricardo, seus filhos e uma penca de netos, carrega junto de si uma legião de amigos.

E lá a encontramos, no ano de 2007, sob o abrigo de um barraco de lona no Acampamento Esperança, nas margens da rodovia MS 395, junto ao córrego Bom Jardim. 

De outra feita, lá está ela em meio à poeira da estrada pelas bandas da Fazenda Santa Maria, lutando por terra, militando junto ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasilândia-STRB, imbatível. Coragem que vai buscar lá no fundo de suas raízes as razões para não sucumbir. 

Sua voz e suas canções brotam dessa luta, cotidiana, de esperança de alcançar um cadinho de terra, para quem já havia perdido quase tudo.

Sua voz tem o hálito e a força da terra, da organização sindical e do gingado afrodescendente que a transforma em doce símbolo da luta contra a discriminação racial e contra o preconceito. 

Essa voz, entretanto, não é audível a todos os ouvidos. Causa ruído para alguns, saber que suas palavras podem ferir corações, despertar paixões e revolução.

Cacos de vidros quebrados, jugos libertados e horizontes nunca antes trilhados. Sua voz soa melhor, mais livre, liberta, pelos campos, acampamentos e palanques improvisados de sem-terra, celebrações, missas e cultos de ação de graça e de fé promovidos por aqueles que acreditam na justiça e no amor. 

Por isso sua voz não chega à maioria dos lugares com a mesma facilidade e convite que os demais. Isso, entretanto, não lhe tira qualquer brilho do olhar.

E agora olha lá, há bem pouco tempo a encontramos atravessando o Brasil reforçando o coro da Marcha das Margaridas, ao lado de Dona Ziza (Jesuína Camargo de Toledo) para cantar para a comitiva e delegação do Presidente Lula, que atravessou o salão para cumprimentá-la, animando Congressos de Margaridas e de Sem Terra, no Planalto Central do Brasil. 

E lá, de novo, a encontramos compondo mesa de celebridades, em eventos na Assembleia Legislativa, Câmaras de Vereadores, convenções partidárias, sendo homenageada e aplaudida, sempre dando uma palhinha e deixando de recordação no coração de todos uma de suas canções.

Canções que ninguém se preocupou em registrar e eternizar na forma digital, porém, cada cidadão levou consigo para casa um pouquinho dos sonhos desta mulher. 

Dona Cida , ao vê-la nos dias atuais sendo festejada e valorizada, empunhando um microfone para falar de sua trajetória, vejo que o relógio do tempo rodou léguas para, agora, e somente agora, incluí-la no rol das pretas que hoje brilham e são homenageadas como cidadãs de valor e fibra desta Brasilândia multicolorida e pluriétnica. 

E como se não bastasse, aos 73 anos de idade e com vigor juvenil, dona Cida ainda adoça a vida dos conterrâneos com suas cocadas.

Olha para o alto e sem hesitar, leva a mão à cabeça e deixa livre a destemida e vasta cabeleira rastafári que ostenta com orgulho, e manda ver…, embalando a todos com o encantamento do seu verbo e de sua canção.

Brasilândia/MS, 9 de julho de 2025.

Fonte: História e Memória de Brasilândia, Vol. II – Patrimônio, Pág. 28-29.

Postado por carlito dutra às 14:58

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