Por René Abe*
Nos últimos meses, o cenário global vem dando sinais claros de que estamos entrando em uma nova configuração geopolítica. Potências historicamente dominantes, como os Estados Unidos, passam a conviver com a ascensão de novos protagonistas.
A decisão recente do governo americano de impor uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros — o chamado “tarifaço” — é um exemplo concreto dessa mudança e já provoca efeitos imediatos, principalmente entre empresas e profissionais que dependem de negócios internacionais.
No universo do cross-border, que é o conjunto das operações de pagamentos internacionais, essa medida pode abrir espaço para a diversificação de moedas utilizadas nas transações.
Porém, o impacto mais previsível é a retração do volume movimentado. Isso porque muitas empresas que vendiam para os EUA terão apenas dois caminhos: absorver o custo adicional das tarifas ou redirecionar esforços para conquistar clientes em outros mercados.
Ambas as opções exigem ajustes significativos e mudam o fluxo tradicional das operações.
Buscar novos mercados não é um exercício trivial.
Cada empresa terá de reavaliar seu portfólio, entender se seus produtos ou serviços são competitivos em outras praças e, a partir daí, identificar compradores potenciais.
Alguns conseguirão se reposicionar rapidamente; outros, não. Nesse período de transição, é natural que o número de transações internacionais caia, já que parte da energia e dos recursos estará voltada para prospecção — e isso afeta diretamente a receita.
A queda no faturamento, aliás, é hoje uma das maiores preocupações das companhias.
A lição é clara: não concentrar todos os clientes em um único mercado deixou de ser uma recomendação teórica para se tornar uma questão de sobrevivência.
Diversificar a base de parceiros comerciais é crucial, mas nem sempre viável para todos, já que, no fim, são as leis de oferta e demanda que determinam onde e para quem se consegue vender.
Nesse contexto, acredito que as startups têm uma vantagem estratégica. Pela natureza enxuta e pela cultura de experimentação, conseguem se adaptar mais rapidamente a mudanças regulatórias e econômicas, criando soluções ágeis para cenários em mutação.
Novos mercados, novas moedas e novos corredores de pagamentos não são apenas desafios técnicos: envolvem relacionamento, confiança e capacidade de execução.
Por isso, contar com parceiros com DNA de inovação — capazes de reagir rápido e navegar em águas turbulentas — é determinante para preservar a viabilidade econômica no longo prazo.
No fim, é nos períodos de instabilidade que surgem empresas mais resilientes.
E quem souber agir agora, de forma estratégica e com coragem para se reposicionar, estará muito mais preparado para enfrentar o que vier pela frente.
*René Abe é CEO Brasil da Tensec, fintech global de serviços financeiros cross-border

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