Agentes do SuperAção SP unem experiência e empatia em programa que rompe o ciclo da pobreza
A superação já faz parte da vida da assistente social Ioná Maria de Lima. Há duas décadas, quando era beneficiária do Bolsa Família, a paulistana buscava alternativas para sustentar os filhos e chegou a fazer cursos de manicure, depilação e design de sobrancelhas. O trabalho garantiu o sustento imediato, mas a vontade de estudar e ajudar outras pessoas permaneceu latente. Hoje, formada em Serviço Social, Ioná está prestes a iniciar uma nova etapa: será uma das primeiras agentes do SuperAção SP, programa do Governo de São Paulo voltado à superação da pobreza. “Me sinto realizada em poder ajudar as pessoas do mesmo jeito que me ajudaram há 20 anos”, afirmou à Agência SP.

Assim como Ioná, outros profissionais de diferentes trajetórias participam da formação desta primeira turma, realizada ao longo de duas semanas pela Secretaria Estadual de Desenvolvimento Social (SEDS), em parceria com a Fundação Getulio Vargas (FGV Projetos), a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) e a Associação Cultural Casa das Caldeiras. São histórias distintas, mas que convergem na vontade de transformar vidas.
“São Paulo é como um país. Tem um quarto da população do Brasil, gera um terço dos empregos do país e ainda assim é bem desigual”, afirmou a secretária estadual de Desenvolvimento Social, Andrezza Rosalém, aos agentes em formação. “Os 10% mais ricos têm uma renda mensal de R$ 10 mil. Os 10% mais pobres, R$ 300. Isso é uma disparidade no acesso à renda e à qualidade de vida. É o que estamos encarando para romper o ciclo da pobreza no Estado.”
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Entre os novos agentes, Valdinete Rosa dos Santos, baiana de Jacobina e moradora de Embu das Artes há quase 20 anos, conta que encontrou seu propósito de vida no serviço público. Depois de atuar no comércio, virou agente comunitária de saúde, experiência que despertou o desejo de cursar Serviço Social. Formada em 2018, hoje enxerga no SuperAção SP uma oportunidade de fazer mais pelo próximo. “Esse programa vai nos permitir fortalecer os projetos de vida e os sonhos das famílias, para que cada uma possa trilhar um caminho de autonomia”, afirma.
A vida de Danilo Santos Nascimento, natural de Salvador e morador de Campinas desde 2021, também é marcada por reviravoltas. Ele encontrou no serviço social a chance de reconstruir a própria história. “Lamento que esse programa ainda não existia quando eu era jovem. Ser quem eu sou é ser milhares de pessoas que estão à margem. O SuperAção SP chega como oportunidade de dar voz e acolhimento, de mostrar que cada família é única e merece ser tratada com respeito e qualidade”, diz à Agência SP..
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Atendimento personalizado às famílias
Esses relatos dão rosto a um programa inédito no país, que une 29 políticas públicas de nove secretarias estaduais em uma única jornada de atendimento com o objetivo de romper o ciclo de pobreza no estado. O SuperAção SP prevê duas trilhas de atuação: a de Proteção Social, voltada a famílias com barreiras severas de inclusão, e a de Superação da Pobreza, destinada àquelas com potencial de inserção no mercado de trabalho.
Com investimento inicial de R$ 500 milhões, o programa começou sua implementação em 48 municípios das regiões metropolitanas de São Paulo, Campinas, Sorocaba e Baixada Santista. A escolha considerou critérios como concentração de pobreza, Produto Interno Bruto local e taxa de ocupação. Além disso, o Estado disponibilizou R$ 110 milhões em cofinanciamento para que as prefeituras ampliem serviços como CRAS, CREAS e atendimento domiciliar.
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No cotidiano, o protagonismo será dos agentes sociais. Cada profissional acompanhará até 20 famílias, com visitas semanais, quinzenais ou mensais, conforme a necessidade. A atuação prevê o acompanhamento por até dois anos, com planos personalizados que incluem auxílios financeiros, bonificações por metas cumpridas e conexão direta com políticas públicas de saúde, educação, moradia e geração de renda.

O coração desse processo é o Plano de Desenvolvimento Familiar (PDF), documento elaborado em conjunto pelo agente e a família. Nele, são definidas metas, objetivos e ações para cada integrante, sempre com foco na inclusão produtiva e no fortalecimento dos vínculos comunitários. Para a secretária Andrezza Rosalém, o instrumento é decisivo: “O PDF ajudará a mitigar as barreiras que a família enfrenta para a inclusão produtiva, detalhando a jornada que cada membro deve seguir para se inserir ou melhorar sua posição no mundo do trabalho”.
A metodologia também se estrutura em três módulos: Proteger, que garante acesso a direitos básicos como alimentação, saúde e educação infantil; Desenvolver, que promove a qualificação profissional associada a incentivos financeiros por metas alcançadas; e Incluir, voltado à inserção no mundo do trabalho e ao estímulo ao empreendedorismo. Entre as ferramentas está a plataforma Trampolim, que concentra vagas de emprego, cursos e serviços de orientação de carreira.
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Durante o treinamento de 80 horas, os agentes participam de aulas teóricas e práticas que abordam desde a construção de vínculos de confiança até o uso de tecnologias digitais para monitorar o progresso das famílias. Há ainda rodas de partilha e dinâmicas de supervisão, que garantem a troca de experiências entre profissionais e a aplicação prática das metodologias no território.
Expectativas do trabalho em campo
Esse processo de formação traz de volta memórias para Valdinete, que vê semelhanças com sua atuação como agente de saúde. “A volta ao território será emocionante. É como se eu estivesse retornando às famílias, mas agora com novas ferramentas para ajudá-las a realizar seus sonhos”, destaca à Agência SP..
Para Ioná, que vai atuar em Itaquaquecetuba, o maior desafio será transformar informação em oportunidade. “A informação é tudo. Muitas famílias não sabem onde recorrer, não enxergam possibilidades. Nosso papel será mostrar caminhos, sem julgamentos, com um olhar empático e verdadeiro”, afirma.

Danilo, por sua vez, traz a experiência de quem já atuava de forma comunitária em Campinas, apoiando pessoas em situação de vulnerabilidade mesmo sem recursos. Ele agora vislumbra o alcance ampliado do trabalho. “O atendimento precisa ser personalizado. Chico não é Francisco. Cada família tem sua especificidade e merece atenção de qualidade. Esse projeto, entre milhões, está olhando para isso: menos quantidade, mais qualidade.”
Na visão da secretária Andrezza Rosalém, é esse olhar individualizado que permitirá o rompimento do ciclo da pobreza em São Paulo. “O trabalho dos agentes é criar vínculos, conectar as famílias às políticas de governo e ajudá-las a trilhar um caminho de autonomia”, reforça.
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Para Valdinete, Ioná e Danilo, a expectativa é imensa. Em seus relatos, eles reconhecem que não têm como “transformar o mundo sozinhos”, como relatou Danilo, mas acreditam que cada encontro com uma família poderá ser um marco. “Será como o nascimento de um filho”, resume o soteropolitano, ansioso pelo primeiro atendimento e para fazer sua parte para que famílias de São Paulo escrevam novos capítulos com dignidade e autonomia.
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