Dia da Árvore: Campo Grande tem verde para mostrar, mas falta acesso para todos

Ilhas de frescor convivem com áreas carentes de planejamento e manutenção da arborização

Campo Grande recebeu este ano, pela sexta vez consecutiva, o título de Tree City of the World (Cidade Árvore do Mundo), reconhecimento concedido pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) e pela Fundação Arbor Day. A capital sul-mato-grossense é a única cidade do Brasil a manter esse selo por seis anos seguidos, resultado de políticas públicas consistentes, planejamento urbano e participação da comunidade.

Segundo o IBGE, o índice de arborização em Campo Grande alcança 91,4%, muito acima da média nacional de 66%. Isso se traduz em 73,66 m² de área verde por habitante, quase cinco vezes mais do que os 15 m² por pessoa recomendados pela Sociedade Brasileira de Arborização Urbana (SBAU). A pesquisa “Floresta Urbana de Campo Grande”, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), reforça a relevância desses números: somente as áreas verdes privadas somam mais de 10 mil hectares, com destaque para regiões como o Bandeira, que concentra a maior cobertura.

A proximidade do Dia da Árvore, celebrado em 21 de setembro, reforça a importância desses indicadores e abre espaço para refletir sobre como as áreas verdes impactam diretamente a qualidade de vida nas cidades.Planejamento e sustentabilidade Para a professora Lusianne Azamor, coordenadora de Arquitetura e Urbanismo da Estácio, o reconhecimento internacional não deve ser visto apenas como título, mas como reflexo de um esforço coletivo em prol da qualidade de vida. Ela explica que a arborização urbana é um elemento central no enfrentamento dos desafios climáticos contemporâneos.

“Percebe-se nos estudos que o papel da vegetação é fundamental. As árvores ajudam a minimizar os efeitos das mudanças climáticas, reduzindo as chamadas ilhas de calor e criando espaços de frescor em meio ao asfalto e às construções. Elas funcionam como um regulador natural, colaborando para o conforto térmico e a saúde da população”, afirma.

Além disso, Lusianne destaca que o futuro da arborização depende de políticas integradas, como o Plano Diretor, que prevê a ocupação de espaços já disponíveis dentro da malha urbana antes da expansão imobiliária. “O conceito de cidade compacta é essencial: organizar serviços, comércio, moradia e lazer em torno de onde as pessoas vivem reduz a pressão sobre novas áreas e preserva o que ainda está intacto”, completa.

Desafios e cuidados

Embora os indicadores sejam expressivos, os desafios permanecem. O crescimento urbano exige um planejamento cuidadoso para garantir que os benefícios da arborização sejam sentidos de forma igualitária em todas as regiões da cidade. “É preciso pensar numa conectividade dos espaços verdes, garantindo que todas as áreas recebam atenção, para que o índice de arborização seja percebido por toda a população e não apenas em bairros específicos”, ressalta a professora.

Outro ponto é a segurança urbana, que também precisa estar integrada ao planejamento da arborização. “Há sempre o cuidado com a iluminação pública: árvores muito altas ou mal posicionadas podem gerar sombra excessiva e comprometer a visibilidade nas vias. Por isso, arquitetos e urbanistas avaliam cada caso para equilibrar a presença da vegetação com a infraestrutura existente”, explica Lusianne.

Qualidade de vida

Os dados mostram que Campo Grande está à frente no Brasil quando o assunto é arborização urbana. Mas, mais do que números, o verde representa saúde, bem-estar e qualidade de vida. Em tempos de temperaturas cada vez mais elevadas e cidades marcadas pelo concreto e pelo trânsito intenso, as árvores se tornam aliadas indispensáveis.

Como resume a professora Lusianne Azamor, praças, parques e áreas arborizadas são respiros dentro da cidade. Elas não apenas embelezam o espaço urbano, mas cumprem uma função essencial de equilíbrio ambiental e social, tornando Campo Grande um exemplo de como a natureza pode e deve fazer parte da vida urbana.–

Evelise Couto – jornalista

Foto- Divulgação