Por Sérgio Brotto, CEO da Dascam Corretora de Câmbio 

Sérgio Brotto, CEO da Dascam

Com a entrada em vigor das tarifas impostas pelos Estados Unidos contra produtos brasileiros, começaram a aparecer os primeiros efeitos mais duros: exportadores pressionados, redução de produção, férias coletivas e até projeções de demissões.

No centro dessa turbulência está a volatilidade cambial, um desafio recorrente para empresas que atuam no mercado internacional.

A volatilidade cambial é uma armadilha para o caixa de uma exportadora.

O problema nasce do descompasso entre o contrato fechado em dólar e o recebimento em reais.   Imagine uma empresa que fecha um contrato de US$ 1 milhão com o dólar a R$ 5,50, projetando R$ 5,5 milhões de receita.

Se, no momento do recebimento, a cotação cair para R$ 5,20, a receita encolhe em R$ 300 mil, um impacto que pode transformar lucro em prejuízo e comprometer o capital de giro.  

No curto prazo, a desvalorização do real pode parecer positiva, já que aumenta a receita em reais.

Mas o efeito é ilusório. Insumos importados ficam mais caros, pressionando custos, e compradores externos passam a exigir descontos, alegando que o exportador brasileiro está “ganhando demais” com o câmbio.

O resultado é um desequilíbrio perigoso nas margens, que pode inviabilizar contratos inteiros.   Nesse cenário, passividade não é opção.

Empresas que resistem a ciclos de instabilidade são aquelas que tratam a gestão de risco cambial como prioridade estratégica.

Algumas práticas essenciais: Hedge cambial: travar a taxa de câmbio para receitas futuras, garantindo previsibilidade.

O custo deve ser visto como seguro e não como especulação.

Cláusulas contratuais flexíveis: negociar reajustes vinculados a variações cambiais extremas ou de insumos.

Caixa em moeda forte: manter parte das reservas em dólar ou euro cria um “hedge natural” para quem depende de insumos importados.

Análise de cenários: projetar cenários otimista, realista e pessimista permite acionar gatilhos para antecipar recebimentos ou adiar pagamentos.

Diversificação de mercados: reduzir a dependência de um único destino de exportação é essencial diante de barreiras comerciais.

Para investidores estrangeiros, o tarifaço soma mais uma camada de incerteza. Quem avalia instalar fábricas no Brasil pode até se atrair pelo real desvalorizado, mas hesita diante da instabilidade cambial e da imprevisibilidade política.

Já o capital especulativo tende a buscar segurança no dólar, retirando recursos do Brasil e alimentando ainda mais a volatilidade.  

O tarifaço deixou claro que o câmbio é, hoje, um dos principais fatores de risco para empresas brasileiras internacionalizadas.

Mais do que nunca, a previsibilidade financeira deixou de ser um diferencial competitivo para se tornar condição de sobrevivência.  

Para atravessar esse ciclo de turbulência com solidez, é essencial combinar pragmatismo, planejamento e agilidade.

O câmbio pode até parecer incontrolável, mas sua gestão não pode ser negligenciada. 

Marize Vossen
 


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