Em 2024, o Brasil registrou mais de 344 mil internações devido a doenças relacionadas ao saneamento ambiental inadequado, o que equivale a aproximadamente 950 internações diárias. Desse total, 168,7 mil casos foram atribuídos a infecções transmitidas por insetos vetores, especialmente a dengue, enquanto 163,8 mil internações decorreram de doenças de transmissão fecal-oral, como gastroenterites causadas por vírus, bactérias ou parasitas.
Embora os números absolutos sejam elevados, desde 2008 observa-se uma redução média anual de 3,6% nessas internações. Contudo, algumas regiões ainda enfrentam desafios significativos. Em 2024, a Região Centro-Oeste apresentou a maior incidência de internações no país, com 25,5 casos por 10 mil habitantes, em grande parte devido a surtos de dengue. A Região Norte registrou 14,5 internações por 10 mil habitantes relacionadas a doenças de transmissão fecal-oral, o dobro da média nacional. Estados como Amapá e Rondônia destacaram-se negativamente, com incidências de 24,6 e 22,2 internações por 10 mil habitantes, respectivamente.
No Nordeste, embora a taxa geral de internações esteja próxima da média brasileira, a incidência de doenças de transmissão fecal-oral é preocupante. A região apresentou a segunda maior taxa do país, com 12,6 internações por 10 mil habitantes, sendo que no Maranhão essa taxa atingiu 42,5, seis vezes superior à média nacional.
Essas doenças afetam desproporcionalmente populações de menor status socioeconômico. Em 2024, 64,8% das internações envolveram pessoas pretas ou pardas. Embora os indígenas representem apenas 0,8% do total de internações, a incidência entre eles foi de 27,4 casos por 10 mil habitantes. Crianças e idosos são particularmente vulneráveis: cerca de 70 mil crianças com até 4 anos foram hospitalizadas, representando 20% do total, com uma incidência de 53,7 casos por 10 mil pessoas nessa faixa etária. Entre os maiores de 60 anos, a incidência foi de 23,6, totalizando aproximadamente 80 mil internações, ou 23,5% do total.
O Instituto Trata Brasil estima que a ampliação do acesso a água tratada e a serviços de coleta e tratamento de esgoto poderia reduzir em quase 70% a taxa de internações relacionadas ao saneamento inadequado, gerando uma economia anual de R$ 43,9 milhões.
Em relação à mortalidade, em 2023 foram registrados 11.544 óbitos associados a doenças relacionadas ao saneamento ambiental, com 5.673 mortes por infecções fecal-orais e 5.394 por doenças transmitidas por insetos. Embora tenha havido uma redução nos óbitos desde 2008, em 1.748 municípios a taxa de mortalidade aumentou nesse período. Os idosos foram os mais afetados, representando 76% das mortes (8.830 casos). A taxa de óbitos entre indígenas foi quatro vezes superior à da população em geral, apesar do número absoluto de casos ser menor em comparação com outros grupos étnicos.
