Comissão de Relações Exteriores aprova requerimento para envio de grupo parlamentar a Washington; setor produtivo cobra reação e alerta para risco de desemprego e colapso nas cadeias industriais
A proposta do presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado Federal, senador Nelsinho Trad (PSD-MS), de organizar uma missão parlamentar aos Estados Unidos, ganhou status de resposta institucional da Casa ao tarifaço de 50% anunciado por Donald Trump contra produtos brasileiros.
A CRE aprovou, nesta terça-feira, 15, o requerimento que formaliza a instalação de um grupo cuja primeira atividade é uma interlocução com o Senado norte-americano no final de julho.
“Já chamei uma reunião extraordinária, hoje mesmo de manhã, da Comissão de Relações Exteriores.
O requerimento vai para o Plenário do Senado Federal e, a partir do momento em que for aprovado, ele ganha um corpo legítimo institucional.
Nós iremos continuar tabulando com a Embaixada dos Estados Unidos em Brasília a ida de um grupo parlamentar para fazer interlocuções com os congressistas norte-americanos que querem conversar conosco.
Eles estão vendo também que, para vários estados que eles representam, as tarifas terão um impacto muito negativo”, afirmou o presidente da CRE.
Segundo o senador Nelsinho Trad, o convite para fortalecer o canal de interlocução bilateral entre os Legislativos partiu do encarregado de negócios da Embaixada dos EUA no Brasil, Gabriel Escobar, há cerca de três meses.
Com a escalada protecionista dos EUA e a ausência de diálogo político de alto nível, a iniciativa ganhou caráter de urgência.
“Essa crise mostrou que o comércio internacional não pode ser campo de batalha ideológica. É agenda de Estado. Precisamos de pontes, não de muros”, afirmou o senador Nelsinho Trad.
“O Brasil não pode se isolar. E o Senado tem legitimidade para agir com equilíbrio e responsabilidade.”
A expectativa da CRE é de que a missão sirva de embrião para um grupo interparlamentar Brasil–Estados Unidos voltado à diplomacia econômica e à preservação de empregos, investimentos e cadeias produtivas.
Indústria e importadores soam alarme
O diretor da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Mario Sergio Carraro Telles, foi direto ao falar com os senadores nesta manhã.
“Essa taxação inviabiliza projetos em curso, afeta empregos e desorganiza setores como o automotivo, aeroespacial, metalúrgico e de máquinas e equipamentos.”
Segundo ele, a defesa da previsibilidade feita pelo senador Nelsinho Trad foi “cirúrgica”.
Carraro citou como exemplo a fundição Tupy, em Joinville, fornecedora de peças para montadoras norte-americanas.
“Se você coloca esse valor de 50% nesse setor, impacta em 70% a 80%. Inviabiliza não só a indústria brasileira, mas também a americana, que não vai arranjar outro fornecedor amanhã”, afirmou.
A CNI destacou que, nos últimos cinco anos, empresas brasileiras investiram US$ 3 bilhões nos EUA, enquanto o investimento norte-americano no Brasil chegou a US$ 27 bilhões.
“Estamos falando de uma relação bilateral madura, que envolve cadeias de valor cruzadas. Não é possível tratar isso com improviso”, disse.
A confederação entregou aos senadores uma apresentação com dados atualizados e alertou para impactos severos especialmente em São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
O presidente da Associação Brasileira dos Importadores, Michel Platini Juliani, fez um apelo ao Senado.
“Se houver reciprocidade total, como está sendo discutido, vamos atingir frontalmente todo o mercado de importação no Brasil. Isso vai gerar desemprego imediato e forçar empresas a mudar seu modelo de negócios”, afirmou.
Segundo Platini, importadores poderão buscar fornecedores na China ou na Índia, mas nem sempre haverá alternativa viável.
Agro pede ação política articulada
O secretário de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura e Pecuária, Luis Rua, alertou: “ainda que a tarifa só entre em vigor no dia 1º de agosto, os impactos já começaram”.
Rua destacou prejuízos em setores como café e suco de laranja.
“Só o café gerou quase US$ 2 bilhões em exportações para os EUA no ano passado, e agora poderá ser taxado em 50%, mesmo sem haver substituto de qualidade similar no mercado global.”
De acordo com o secretário, 32% de todo o suco de laranja exportado pelo Brasil vai para os EUA e 80% das exportações mundiais desse produto saem do Brasil.
Rua defendeu ação coordenada do governo, do setor privado e do Congresso.
“Estamos incentivando o setor privado a mostrar aos americanos que, em muitos casos, não há substituto viável para os produtos brasileiros”, afirmou.
Ele também mencionou a importância da atuação das embaixadas e da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), ao citar oportunidades em negociação para carne bovina no Japão e na Coreia do Sul, suco de laranja na Arábia Saudita e café no mercado asiático.
Representando o Ministério das Relações Exteriores, o Secretário de Assuntos Econômicos e Financeiros da Pasta, embaixador Philip Fox, afirmou que o governo brasileiro esteve “profundamente engajado” durante meses para tentar evitar a escalada da taxa.
Fox relatou uma série de contatos diplomáticos e técnicos com o governo norte-americano desde março, como reuniões com a participação do vice-presidente Geraldo Alckmin, do chanceler Mauro Vieira, do embaixador Mauricio Lyrio e de lideranças republicanas daquele país. Segundo ele, 74% das exportações americanas entram no Brasil sem pagar tarifa, e o superávit dos EUA na balança com o Brasil nos últimos 20 anos chega a US$ 410 bilhões.
Clima de união no Senado
A proposta do senador Nelsinho Trad de fortalecer a conexão com parlamentares norte-americanos recebeu amplo apoio dos senadores que participaram da reunião de hoje.
Tereza Cristina (PP-MS) defendeu que a Lei da Reciprocidade Econômica, da qual foi relatora, seja utilizada apenas como último recurso. “A gente tem que persistir no diálogo.
É hora de união e o Senado tem papel fundamental como articulador e defensor da nossa soberania.”
Hamilton Mourão (Republicanos-RS) reforçou a importância da interlocução parlamentar. “Vamos à nossa diplomacia. Nós aqui do Parlamento podemos ter contato com a Comissão de Relações Exteriores do Senado norte-americano e abrir um canal de diálogo.” O senador também afirmou: “não aceito que o Trump venha meter o pé dele num caso aqui que é interno nosso. Há uma injustiça sendo praticada contra o presidente Bolsonaro. Mas compete a nós, brasileiros, resolvermos isso.”
O senador Wellington Fagundes (PL-MT) também elogiou a articulação da CRE.
“Extremamente importante, inclusive a proposição dessa missão para nós parlamentares estarmos dialogando com nossos pares”.
O presidente da CRE, senador Nelsinho Trad, reforçou que o grupo vai trabalhar por uma solução negociada. “Essa situação é ruim para o Brasil, mas também é ruim para os Estados Unidos.
Nada melhor do que dialogar com a contraparte americana para tentar achar um caminho.
A primeira medida que tem que ser extraída daqui é tentar ganhar um tempo maior para que essa negociação possa ocorrer no mais alto nível,” defendeu o senador.





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